segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O povoamento do Brasil

Enquanto a Espanha enriquecia com o ouro e a prata do continente americano, Portugal fazia fortuna com as especiarias do Oriente.
Nos primeiros 30 anos do século XVI Portugal começou a colher os frutos das grandes navegações. A bandeira portuguesa passou a ser vista em todos os oceanos, na África, na Ásia e na América. As feitorias e fortalezas portuguesas estavam espalhadas pelos quatro cantos do mundo.
Não demorou: porém, para que o lucro do comércio português com o Oriente começasse a. Isso se deu, principalmente pelo crescimento das despesas. A presença portuguesa no Oriente nunca foi aceita pacificamente pelos concorrentes orientais (turcos, chineses, árabes).
Para conseguir comerciar, Portugal tinha de armar enormes esquadras. Uma dessas esquadras, a que se destinava a conquistar Diu, entreposto comercial indiano, se compunha de 400 navios, com mares de pessoas. Armar essas esquadras custava muito dinheiro. Nos 30 primeiros anos, o lucro com o comércio de especiarias era tão grande que pagava aquelas despesas e ainda sobrava bastante para o rei! para os comerciantes e para os navegadores.
Mas quanto mais especiarias Portugal trazia, maior era a oferta e menor seu preço. O lucro do comércio oriental começou a diminuir O comércio oriental deixava de ser um grande negócio.
O grande negócio nesses tempos já não estava no Oriente, mas no Ocidente. Eram as toneladas de ouro e prata que os espanhóis retiravam das suas colônias americanas.
A Portugal também coube uma parte do continente americano. Nessas terras: que passaram a se chamar Brasil, o ouro e a prata ainda não tinham sido encontrados. O rei de Portugal tinha fortes motivos para acreditar que nessas terras também haveria metais preciosos. Bastaria estimular as pessoas a procurá-los.
O rei de Portugal, d. João III, tinha dois problemas em relação ao Brasil: descobrir metais e pedras preciosas e proteger a terra das investidas de outros países europeus.
Para proteger a terra, a melhor solução seria povoar. Com mais gente, seria mais fácil também organizar expedições para procurar riquezas no interior.
D. João III deu a Martim Afonso de Sousa a tarefa de chefiar a expedição que assentaria as bases do povoamento do Brasil. Assim, em 1 530, ele chegou ao Brasil com apenas 400 pessoas e cinco embarcações. Trazia soldados, trabalha dores e padres.
Martim Afonso de Sousa era um conquistador valente e ousado. Do mesmo porte que Cortez e Pizarro. Para estimular a sua coragem, o rei deu-lhe muitos títulos e poderes nas terras do Brasil. Foi nomeado capitão das terras brasileiras. Com tais poderes, ele fundou a vila de São Vicente e com isso iniciou a colonização portuguesa na América.
Uma vila representava muito mais do que uma feitoria. Esta tinha poucas pessoas, um armazém, um ancoradouro e um pequeno forte, geralmente de madeira. Atendia às necessidades de armazenamento de produtos que iam para Portugal, proteção e reabastecimento de navios ao longo das rotas de comércio. A vila era um núcleo permanente de população. Tinha que ter uma igreja, uma praça central, uma cadeia, um pelourinho e uma sede administrativa.
Martim Afonso distribuiu terras e escolheu os administradores da vila. Organizou também duas expedições para procurar metais no interior. A primeira delas voltou sem nada encontrar, e a segunda desapareceu, provavelmente massacrada pelos índios.
Martim Afonso combateu ainda navios franceses, que continuavam vindo buscar pau-brasil, e fez um reconhecimento em toda a costa brasileira.
Pouco tempo depois do retorno de Martim Afonso de Sousa a Portugal: d. João III decidiu povoar ainda mais o Brasil. Todavia, o tesouro real não tinha dinheiro suficiente para financiar a vinda e a manutenção de um grande número de colonos. A solução seria os colonos virem por conta própria. Para isso teriam que ser estimulados.

A divisão do Brasil

A solução encontrada não era nova em Portugal. Adotou-se um sistema que já tinha dado certo nas ilhas do Atlântico: o sistema de capitanias hereditárias.
O que vem a ser isso?
O Brasil foi dividido em 15 partes. Essas partes foram entregues a 12 donatários de confiança; a maioria deles eram pessoas que haviam se destacado nas conquistas portuguesas na Ásia. Martim Afonso ficou com duas e Pero Lopes, irmão dele, com três.
Essas pessoas receberam o título de capitão, que na época era muito importante. Por isso suas terras se chamavam capitanias. Os filhos dos capitães tinham o direito de herdá-las, por isso eram chamadas de capitanias hereditárias.
O que impressiona é ver o enorme poder de que dispunham os capitães. Eram eles, ou as pessoas por eles nomeadas, que prendiam e julgavam. Não pagavam impostos e ainda ficavam com uma parte do que a população da capitania pagava ao rei. Além disso, podiam doar terras a quem tivesse recursos e quisesse instalar uma fazenda.
O rei de Portugal: como todos os reis europeus do período, mandava sem interferências. Não dividiam o poder com ninguém. Certamente não devia lhe agradar o fato de dar tantos poderes aos capitães. Mas essa era a única forma de estimulá-los a investir o seu dinheiro e a sua bravura no povoamento do Brasil.
O Brasil deveria fornecer metais preciosos e gêneros agrícolas tropicais para Portugal. O sistema de capitanias hereditárias tinha tudo para dar certo, mas não deu.

Muito índio e pouca riqueza

O sonho de d. João III montar no Brasil um sistema de povoamento e de exploração em que os colonos gastassem seu próprio dinheiro não deu muito certo.
Primeiro, porque faltou dinheiro. Muitos donatários tinham, mas não estavam dispostos a investi-lo no Brasil na montagem das atividades produtivas. Estavam acostumados a lucrar com o comércio oriental, negócio mais seguro e menos trabalhoso do que produzir no Brasil Para isso, era preciso derrubar a floresta, lavrar e semear a terra, cuidar das plantações, colher, armazenar e comercializar a produção. No caso da produção de açúcar, o trabalho era muito maior e exigia mais equipamentos e capitais.
Por causa disso, alguns capitães donatários nem sequer vieram ao Brasil. Outros, como o de Itamaracá, vieram, mas rapidamente retornaram para Portugal. Voltavam dizendo que as poucas riquezas que podiam ser extraídas no Brasil não compensavam o sacrifício.
Segundo, porque os índios não estavam dispostos a dividir suas terras com os portugueses. Nos primeiros 30 anos após a descoberta, os contatos entre índios e portugueses foram relativamente pacíficos. A atividade econômica que os portugueses desenvolveram nesse período, o escambo do pau-brasil, não os obrigava a ocupar a terra. Eram contatos amistosos porque os índios nem sequer imaginavam que os portugueses se consideravam os donos da terra.
Mas, quando os colonos começaram a chegar, derrubando florestas e implantando fazendas, eles começaram a perceber que os portugueses tinham vindo para ficar, isto é, para tirar as terras deles. A sua maneira, isto é, pela guerra, resistiram e passaram a atacar os portugueses.
Nos primeiros tempos do povoamento português, a resistência armada que os índios opuseram foi um forte motivo para que muitos donatários desistissem da experiência colonizadora e voltassem para Portugal. Outros não tiveram essa sorte. Foram mortos pelos índios.
Francisco Pereira Coutinho, donatário da capitania da Bahia, foi um desses casos. Logo que aqui chegou, construiu uma vila, uma pequena fortaleza, dois engenhos e deu terras para que outros colonos montassem várias fazendas de cana-de-açúcar Nos seus primeiros anos de Brasil, tudo ia às mil maravilhas.
Não tardou muito para que os tupinambás destruíssem tudo e matassem muitos colonos. Seguiram-se sete anos de combates. Durante esse tempo, os portugueses estiveram na defensiva. Protegendo-se para não morrer.
Até que um dia, cansado de tantos combates, o donatário, acompanhado de alguns co resolveu abandonar tudo e voltar para Portugal.
Na viagem de volta, ao chegar a Ilhéus, receberam a visita de um grupo de tupinambás, que lhes propuseram a paz e pediram que votassem.
Contentes com a notícia, eles retornaram para a capitania. Contudo, naufragaram pouco antes de chegar a Itamaracá. Conseguiram se salvar e nadar até a praia. Só que, aí chegando, foram mortos e devorados por índios de outra tribo. O único que conseguiu escapar com vida desse banquete foi o português Diogo Alvares Correia, o Caramuru. Isso porque ele sabia falar a língua desses índios.
Também mortos pelos índios foram os donatários das capitanias do Ceará e do Espírito Santo. Um outro que também retornou foi o donatário da capitania de São Tomé. O fato é que em todas as capitanias os combates eram constantes.

As exceções à regra


No meio de tantos fracassos, algumas capitanias conseguiram alcançar o objetivo para o qual foram criadas, isto é, povoar e produzir gêneros agrícolas de alto valor comercial na Europa. E o caso das capitanias de Pernambuco, São Vicente, Porto Seguro e Ilhéus.
O sucesso dessas capitanias pode ser explicado porque seus donatários souberam lidar melhor com a resistência indígena. Em Porto Seguro, que foi o local onde Cabral desembarcou, portugueses e índios já viviam juntos há mais de 30 anos. Nas outras três, os colonos estavam muito bem armados e souberam resistir aos vários ataques indígenas.
Outro motivo importante para explicar o sucesso dessas capitanias é o fato de seus donatários estarem dispostos a in vestir bastante dinheiro. Puderam montar engenhos de açúcar, comprar bois e instrumentos agrícolas, além de pagar soldados para a proteção das fazendas.
Assim que as fazendas começaram a produzir açúcar, algodão e arroz, os investimentos começaram a dar lucros para os donatários e colonos. Esses produtos eram exportados, pois tinham alto valor no comércio europeu.
Certamente, o preço do açúcar e a grande quantidade de terras próprias para a plantação de cana devem ter mostrado ao rei de Portugal que a sua colônia americana poderia render mui to mais do que estava rendendo.

Unindo o Brasil


A fim de incentivar as atividades econômicas e melhor controlar os donatários, d. João III ampliou a sua administração no Brasil. Isso foi feito em 1548, com a criação do cargo de governador do Brasil. A partir dessa data, todos os habitantes da colônia deveriam obedecer ao representante do rei.
Nos esquemas abaixo, podemos observar como era a organização do poder antes da criação do governo-geral e como ficou depois.



O primeiro governador-geral, Tomé de Sousa, que chegou ao Brasil em 1 549, além de fundar a primeira capital do Brasil, a cidade de Salvador, trouxe uma série de leis que iriam determinar os poderes dos futuros governadores.
Governar o Brasil significava ter de cumprir uma série de tarefas. Havia as tarefas militares, como as de proteger o litoral brasileiro e impedir ataques dos índios. Devia incentivar a produção do açúcar e de outros produtos agrícolas para a exportação, além de procurar metais preciosos e impedir o contrabando.
Para ajudar o governador nessas tarefas, o rei criou três cargos. Para a chefia das atividades militares, o capitão-mor. Para aplicação da justiça, o ouvidor-mor. Para as tarefas econômicas, o provedor-mor.
As leis não eram elaboradas no Brasil Vinham prontas de Portugal. Ao governador e demais funcionários cabia aplicá-las.
A criação do governo-geral no Brasil não significou o fim do sistema de capitanias hereditárias. Os capitães donatários continuaram atuando. Só que perderam a maior parte do poder que tinham. Antes, eles mandavam e desmandavam nas suas capitanias. Agora, novas autoridades mandavam mais do que eles.
Com o governo-geral, Portugal criou uma administração centralizada para a colônia. Por si só essa medida não estimula ria a vinda de mais portugueses para colonizar e investir no Brasil. Mas o açúcar es tava dando grandes lucros e o seu consumo aumentava na Europa. O Brasil era, praticamente, o único produtor.
Dessa forma, vir para o Brasil e montar engenhos se tornou um grande negócio.
Assim, por volta de 1570, várias regiões do continente americano já estavam insertas na economia européia através do comércio. A América espanhola, fornecendo metais preciosas e gêneros agrícolas. A América portuguesa: fornecendo pau-brasil e açúcar.
Os co passaram a ter renda para comprar produtos
europeus. Com isso começava a se formar um mercado consumidor no continente americano, estimulando a economia européia.
Esse crescimento econômico foi um dos fatores da pro funda transformação que a sociedade européia sofreria. Ela se deu na arte, na ciência, na religião e na política.


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O FEUDALISMO

Houve um tempo, em que os camponeses se submetiam sem questionamento à autoridade indiscriminada do senhor da terra.
Houve um tempo...E este tempo ainda sobrevive em muitas regiões do Brasil, da América e de outros lugares do mundo.

O feudalismo foi um sistema político, econômico e social que predominou na Europa Ocidental, do século IX ao XI. Suas origens encontram-se na crise do Império Romano, a partir do século III, quando ocorreu um processo de ruralização que marcou a vida européia.
Essa crise provocou o aumento do poder dos grandes proprietários de terra, uma vez que foram eles que garantiram a proteção às pessoas que saíam das cidades para o campo, proteção que o Estado romano não conseguia mais proporcionar.
A ruralização foi resultado de uma série de fatores: as guerras contra os bárbaros, que fizeram o comércio e a vida urbana declinarem; os ataques constantes dos árabes nas cidades litorâneas da Europa, empurrando sua população para o interior do continente (séculoVIII); o desmembramento do Império Carolíngio que enfraqueceu o poder real e fortaleceu os poderes dos senhores de terra; as invasões dos normandos e dos húngaros (século IX), que aumentaram o clima de insegurança na Europa e obrigaram os senhores a organizar a defesa de suas terras, o que lhes deu mais poder político.

Os húngaros, originários da Ásia, realizaram vários ataques ao Ocidente e criaram um reino na Europa Central.Os normandos também são chamados de vikings, isto é, homens das baías, porque provêm dos fiordes da península Escandinava. Usavam o drakkar, um navio de guerra que tinha um casco que acabava em chifres e cabeças de dragão e sua arma preferida era a acha. Usavam escudos circulares feitos de madeira forrada de couro e com a ponta de cobre. Sua religião era igual à dos visigodos, acreditando, também, que os que morriam em combate iam para o Valhala, o paraíso. Saquearam vários portos da Europa Ocidental e estabeleceram-se na Inglaterra e norte da França, na região da Normandia.

Assim, ao longo dos séculos, a população do ocidente europeu deixou de viver numa sociedade comercial e urbana e passou a viver numa sociedade rural e agrária, na qual o poder político era descentralizado.
A esse novo sistema de vida deu-se o nome de feudalismo.
O sistema feudal consolidou-se no século IX e evoluiu de modo diferente na Europa Ocidental.

O FEUDO, A GRANDE PROPRIEDADE RURAL

No feudalismo, em geral, a palavra “feudo” significava a posse de uma grande propriedade rural, onde se desenvolvia a vida social, econômica e política. O feudo era formado pelo castelo fortificado, aldeia, terras para o cultivo, bosques e pântanos.
O castelo, residência do senhor feudal, geralmente localizava-se num ponto que possibilitasse o controle da região: um rochedo, uma ilha, um cruzamento de estradas. Continha tudo o que era necessário aos seus moradores. Além dos cômodos da família possuía também despensa para estocar alimentos, capela, celeiros, oficinas artesanais, moinho, depósito de armas e combustíveis.
Inicialmente, os castelos eram feitos de madeira, mas a partir do século XII, surgiram os de pedra. Ao seu redor havia uma muralha e um fosso que podia ser ultrapassado por uma ponte levadiça.
A aldeia, localizada próximo ao castelo, era o local onde viviam os camponeses, em casas feitas de varas trançadas e barro, cobertas de folhas. A maioria das casas tinha apenas um cômodo e quase nenhum móvel. Uma caixa de madeira cheia de palha era a única cama para toda a família. Os camponeses alimentavam-se de pão preto, verdura, sopa e, muito raramente, comiam carne. Se as colheitas fossem ruins, passavam fome, pois tudo o que produziam era entregue ao senhor feudal.

“A fome também era causada pelos baixos rendimentos do trabalho agrícola, pois os instrumentos usados para lavrar a terra eram rudimentares e, em sua maior parte, de madeira. O ferro era tão raro e valioso que o simples roubo de uma faca era punido rigorosamente. Daí a importância dos trabalhos manuais. Por isso, quando alguém diz hoje que naquele tempo o que importava era possuir terras, está se esquecendo de que isso só tinha valor de fato porque vinha junto o poder sobre os homens e seus grosseiros instrumentos agrícolas. “Fome – O Feudalismo, Paulo Miceli”.

As terras do feudo estavam divididas em terras do senhor (manso senhorial), cultivadas pelos camponeses, cuja produção destinava-se ao sustento da família do proprietário; terras dos servos (manso servil), divididas em lotes arrendados aos camponeses, de onde tiravam uma parte da produção para a sua subsistência e de sua família, entregando a outra para o senhor; e terras comunais, constituídas por florestas, pastos, bosques e pântanos. Estas podiam ser usadas tanto pelo senhor como pelos camponeses; ofereciam pastagens para o gado, madeira para construção e fabricação de carvão e animais de caça, sendo o direito à caça reservado apenas aos nobres.


UMA SOCIEDADE ESTAMENTAL

Os estamentos fundamentam-se na origem e na função das pessoas. Numa sociedade estamental as posições sociais são rígidas, ou seja, é muito difícil uma pessoa mudar de um estamento para outro. A sociedade feudal estava dividida em três estamentos: a nobreza, o clero e os camponeses.
Segundo a tradição religiosa da época, cada estamento possuía uma missão ou função na sociedade feudal: o estamento dos nobres tinha a função de lutar nas guerras; o do clero, rezar e salvar a alma dos homens, e o dos camponeses, trabalhar, produzindo o necessário para o sustento de todos.


OS QUE GUERREIAM

A nobreza, descendente dos proprietários romanos e militares germanos, constituía o estamento dominante. Os nobres que tinham o poder sobre a terra e sobre as pessoas que nela viviam eram chamados de senhores feudais. Eram eles que administravam a justiça, criavam e cobravam impostos, cunhavam moedas, faziam a guerra e a paz.
As guerras constantes entre os senhores feudais pela disputa de terras geravam muita insegurança, obrigando os nobres a buscarem proteção nas relações pessoais. Criavam laços de dependência entre si, onde um oferecia proteção e o outro, serviços. Essas relações foram chamadas de relações feudo-vassálicas ou de suserania e vassalagem.
Aquele que doava o feudo denominava-se suserano, e o que recebia era o vassalo. O suserano assumia a obrigação de dar proteção militar ao vassalo, e este por sua vez, assumia o compromisso de ser fiel, prestar serviço militar e dar ajuda financeira quando o suserano necessitasse. Comprometia-se também a resgatá-la caso caísse prisioneiro e a contribuir com recursos para o casamento de sua primeira filha e para a armação de cavaleiro do primeiro filho.
A relação de suserania e vassalagem originou uma hierarquia. Os vassalos diretos do rei eram os condes, duques e marqueses. Esses dividiam suas terras e se tornavam suseranos de barões e viscondes, que também podiam doar feudo aos cavaleiros. Últimos dessa hierarquia, os cavaleiros, em geral, não podiam dividir suas terras, sendo apenas vassalos.
A relação de vassalagem se concretizava através de um ritual: a homenagem, o juramento de fidelidade e a investidura. O futuro vassalo prestava homenagem colocando suas mãos unidas entre as mão do suserano, num ato de entrega. Em seguida, em pé, com as mãos sobre a Bíblia ou sobre um relicário, fazia o juramento de fidelidade, e os dois se beijavam na boca para mostrar que se consideram iguais. Finalmente a investidura era feita quando o senhor entregava ao vassalo um objeto que poderia ser um ramo de folhas ou um punhado de terra, simbolizando o feudo (título, cargo ou terra).

A relação de fidelidade que ligava o vassalo ao suserano baseou-se numa instituição germânica chamada comitatus. Era comum o juramento de fidelidade entre os guerreiros germanos e seus chefes.
A prática de doação de terras teve origem no Império Carolíngio. Os reis desse império, necessitando de ajuda militar, costumava doar terras aos seus guerreiros. Era uma instituição chamada benefício.

Inicialmente, cavaleiro era aquele que combatia a cavalo e oferecia, em troca de favores, seus serviços aos nobres. Por volta do século IX, a prestação de serviço a cavalo se tornou necessária e muito dispendiosa. Por isso, para ser cavaleiro era preciso ser de origem nobre e ter riqueza para possuir armadura, armas, cavalos e ajudante.
Com o tempo, as exigências foram aumentando: o cavaleiro deveria ter uma educação especial, que começava na infância. Aos sete anos era pajem, e aprendia boas maneiras, canto, música e ouvia histórias de heroísmo. Aos 14 anos, tornava-se escudeiro, e aprendia a montar, caçar e manejar armas, e, aos 20, era armado cavaleiro.
A partir do século XIII, a Igreja interferiu na cavalaria com o objetivo de controlar a agressividade dos nobres. Foram introduzidos elementos religiosos na cerimônia de armação de cavaleiro. Assim, antes de receber as armas, o cavaleiro passava uma noite em jejum e orações. Depois, fazia um juramento prometendo: acreditar em todos os ensinamentos da Igreja e observar os seus mandamentos e suas leis; proteger a Igreja, proteger e defender os fracos; amar o seu país; lutar contra os infiéis; cumprir todos os deveres de vassalagem, desde que não fossem contrários à Lei de Deus; nunca mentir e ser sempre fiel à palavra empenhada; ser generoso com todos; ser sempre e em todo lugar defensor do Direito e da Lei contra a injustiça e o mal. No século XIV, a cavalaria entrou em decadência quando surgiram os soldados profissionais.

O espírito belisco da nobreza se manifesta também nos seus divertimentos preferidos: o torneio e a caça. Os torneios eram batalhas simuladas, usadas tanto como treinamento para a guerra, como espetáculo em que os nobres exibiam sua coragem.


OS QUE REZAM

Outro estamento privilegiado era o clero, que se dedicava à oração e à pregação. Em princípio, era aberto, porque admitia a entrada de qualquer homem livre. No entanto, a maioria do clero tinha a mesma origem que a nobreza, sendo comum filhos de nobres que não tinham ferança entrarem para a vida religiosa.
No período das invasões bárbaras, a Igreja foi a única instituição que sobreviveu organizada. Além de cuidar da evangelização dos bárbaros germânicos, conservou os documentos da cultura clássica. Exercia grande influência sobre os nobres e camponeses, impondo suas idéias e seus princípios morais.
Muitos reis e nobres, precisando do apoio da Igreja, doaram-lhe terras, o que a tornou grande proprietária de feudos. Bispos e abades, que constituíam o alto clero, governavam esses feudos como verdadeiros senhores feudais.
A Igreja desempenhou um papel importante junto à nobreza, combatendo seu espírito belicoso, por meio de instituições como a “Paz de Deus”, que proibia o ataque aos mercadores, camponeses e clero, e a “Trégua de Deus”, que condenava a guerra de sexta-feira à tarde até segunda-feira pela manhã, em honra da Paixão de Cristo.

OS QUE TRABALHAM

O estamento não-privilegiado era formado pelos camponeses, que garantiam a sobrevivência de toda a sociedade feudal. Eram descendentes de antigos colonos romanos, de escravos ou pequenos proprietários. Estavam divididos em duas categorias: servos e vilões.
Os servos, maioria dos camponeses, estavam presos à terra do senhor feudal e deveriam a ele várias obrigações. O servo era obrigado a trabalhar de graça, dois ou três dias da semana, na terra do senhor ou na construção de estradas, pontes, etc. Essa obrigação era a corvéia. Além disso, era obrigado a entregar parte da produção de seu lote ao senhor, imposto chamado talha. Se usasse o moinho, forno ou qualquer outra instalação de feudo, pagava as banalidades. Havia também a taxa de casamento, para se casar com uma mulher de outro feudo. A capitação era mais um imposto que devia ao senhor por membro da família (por cabeça).
Os vilões eram camponeses livres, pois podiam trabalhar em qualquer feudo, sendo suas obrigações definidas por um contrato de trabalho. Pagavam talha, corvéia e as banalidades.

TERRA, ÚNICA FONTE DE RIQUEZA

A economia feudal era agrária e auto-suficiente. A terra era a principal riqueza e cada feudo produzia tudo o que era necessáo para a sobrevivência de seus habitantes. O comércio reduzia-se a pequenas trocas diretas, realizadas semanalmente nas vilas.
As técnicas de cultivo eram rudimentares e, para evitar o esgotamento do solo, adotavam o rodízio das culturas. A área de cultivo era dividida em três campos. Durante o ano, enquanto dois campos eram plantados, o terceiro ficava em repouso, para aumentar a sua produtividade; nos dois campos cultivados fazia-se o rodízio do produto. Observe o esquema:

Cada um dos três campos era dividido em faixas, sendo uma do senhor e as outras arrendadas aos servos e vilões.
Além da agricultura, os camponeses criavam suínos e bovinos, aves e abelhas, das quais aproveitavam o mel, usado para adoçar os alimentos.


QUEM TEM TERRA, GOVERNA

No feudalismo, tinha poder quem tivesse terra, e o poder sobre ela significava também poder sobre as pessoas. Esse poder estava nas mãos do senhor feudal, que era soberano em sua propriedade e exercia nela funções de estado: tinha exército, moeda e tribunais próprios. O rei era um senhor feudal como os outros nobres e dependia do apoio militar da nobreza para enfrentar os inimigos. Portanto, o poder político, no feudalismo, era descentralizado.





segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL (1914-1918)

A disputa imperialista e algumas questões nacionalistas foram responsáveis pela Primeira Guerra Mundial, um confronto de grandes proporções que envolveu muitos países, canalizou durante quatro anos grande parte dos recursos mundiais para a produção bélica e, principalmente, causou a morte de milhões de pessoas.
Na virada do século XIX para o século XX, um conjunto de conflitos de caráter imperialista ou nacionalista evidenciava o alto risco de um confronto de amplas proporções. Os interesses em conflito às vésperas da Primeira Guerra Mundial eram os seguintes:
• A Inglaterra e a Alemanha disputavam diretamente a hegemonia econômica e política sobre o mundo.
• Na Península Balcânica, os búlgaros, os sérvios, os croatas e os eslovenos, sob domínio do Império Turco, eram incentivados pela Rússia em sua luta de independência. Os turcos, por sua vez, recebiam o apoio da Áustria-Hungria, que temia o avanço russo sobre os Bá1cãs.
• Os poloneses, irlandeses e finlandeses lutavam pelo direito de se autogovenarem
• A França queria retomar as regiões da Alsácia e da Lorena, que havia perdido para a Alemanha em 1871 (Guerra Franco-Prussiana).
Os antagonismos levaram à criação de um sistema de alianças e à formação de grupos de países que assumiam o compromisso de ajuda mútua, em caso de agressão.
Os dois grupos e seus principais membros eram:
• Tríplice Aliança (potências centrais). Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália (em 1915, a Itália mudou para o outro grupo);
• Tríplice Entente (países aliados). Inglaterra, França e Rússia.
Nesse contexto crítico, o assassinato de um príncipe austro-húngaro por um militante bósnio, que lutava pela autonomia de seu país, serviu de pretexto para o início da guerra, em 28 de junho de 1914.
Os dois blocos - Tríplice Aliança e Tríplice Entente - entraram em combate, e a Alemanha ficou geograficamente presa entre dois inimigos: a França e a Rússia. Para evitar o ataque pelos dois flancos, o kaiser Guilherme 11 usou todo seu poder militar para atacar a França, na expectativa de eliminar um dos seus oponentes. No início, o plano deu certo e os alemães conseguiram chegar a uma área a 30 km de Paris; nesse ponto, porém, encontraram forte resistência das tropas francesas e inglesas.
Durante o ano de 1914, a luta havia se caracterizado como guerra de movimento, ou seja, as tropas germânicas avançavam e as francesas recuavam. A resistência dos aliados deu início a uma outra forma de luta, chamada de guerra de trincheiras: os soldados construíam redes de trincheiras (túneis imensos, cavados no solo), onde ficavam aquartelados, frente a frente, à espera de um melhor momento para atacar. Era uma luta pela manutenção da posição já conquistada e, muitas vezes, para avançar apenas alguns quilômetros.

Um cotidiano infernal
O dia-a-dia vivido nas trincheiras pelos soldados que lutaram na Primeira Guerra Mundial era trágico. Em primeiro lugar, não era possível sair dos túneis porque os soldados inimigos estavam sempre alerta para atirar; pelo mesmo motivo, era necessário estar abaixado o tempo todo, inclusive ao andar. As trincheiras de um mesmo exército eram interligadas, permitindo a comunicação entre as tropas. Ninguém circulava fora da proteção dos túneis. Quando nenhum dos dois exércitos tinha força suficiente para avançar e dominar uma posição, a guerra ficava paralisada e os soldados, presos em suas trincheiras. A situação tornava-se terrível, sobretudo quando chovia; os túneis inundavam e os soldados tinham de ficar o tempo todo dentro da água. O frio e a umidade contribuíam para o surgimento de epidemias, e muitas vezes as doenças matavam mais que os confrontos bélicos. A falta de higiene e o aglomerado humano eram responsáveis por pragas de piolhos e outros parasitas, além da presença constante de ratos.

O fim da guerra e o Tratado de Versalhes
Em 1917, havia um certo impasse no desenrolar da guerra, provocado pelo equilíbrio de forças entre os dois grupos em combate. Em fevereiro, na tentativa de tirar a Inglaterra da luta, os submarinos alemães passaram a atacar todos os navios que se aproximavam daquele país. Nessa campanha, acabaram afundando navios norte-americanos que se dirigiam à Grã-Bretanha. Entendendo que seus direitos estavam sendo desrespeitados, os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha. A chegada das tropas norte-americanas à Europa só aconteceu em março de 1918, quando os demais países envolvidos na guerra já estavam esgotados. A participação do exército dos Estados Unidos rompeu o equilíbrio de forças a favor da Tríplice Entente, e os alemães e seus aliados já não tinham meios de se reorganizarem. Em novembro de 1918, foi assinado o armistício, em que a Alemanha e seus aliados reconheciam a derrota.

O Tratado de Versalhes, documento que determinou as condições da paz, foi assinado em 1919.
O tratado considerou a Alemanha culpada pela guerra e impôs àquele país o pagamento de uma multa de aproximadamente US$ 30 bilhões pelos prejuízos causados; determinou a devolução dos territórios da Alsácia e da Lorena à França e a criação do corredor polonês, uma faixa estreita de terra que atravessava o território alemão e ligava a Polônia ao Porto de Dantzig, dando aos poloneses uma saída para o mar. Além disso, os alemães ficaram proibidos de reorganizar seus exércitos e tiveram de sair das áreas onde praticavam o imperialismo.
As determinações do Tratado de Versalhes condenaram a Alemanha ao empobrecimento e ao enfraquecimento de seu poder militar. Desesperados, muitos alemães lançaram-se à aventura nazista, abrindo caminho para a Segunda Guerra Mundial.